Na maioria das vezes eu fico em casa,
deitado por horas e horas. Pensando no tempo que já foi. É, faz muito tempo,
mas eu ainda me lembro de algumas peripécias que fazia em casa, minha mãe,
Maria das Rosas, sempre brigava comigo – Carlos Eduardo do Perpétuo Socorro,
volta aqui agora ou eu te jogo esse chinelo – ela dizia para mim. Eu e meu
irmão caçula, Vinicius, sempre fomos bagunceiros. Nossa mãe ia à nossa escola
diversas vezes para nos tirar da diretoria. E por fim, apanhávamos juntos
quando chegávamos a nossa casa. Era divertido para nós elaborar alguma
travessura e bem estressante para a nossa mãe. Eu normalmente começava falando
com Vinicius sobre alguma coisa que eu queria fazer – Vinicius, o que você acha
de irmos dar uma volta pelo condomínio, aqui em casa tá chato, tem nada de
interessante passando na TV – e ele que curtia muito andar pelo condomínio,
facilmente cedia as minhas sugestões. Saíamos e ficávamos rodeando pelo
parquinho que tinha dentro do condomínio, quando estávamos voltando para nosso
apartamento, percebi que tinha uma janela aberta e falei para meu irmão – Olha,
você está vendo aquele apartamento com a janela aberta? - ele me respondeu – Sim, o que é que tem? –
e falei para ele o meu plano, já sabendo que iria aceitar – Vamos jogar terra,
vai ser divertido e depois temos que sair correndo – ele aceitou e então fomos jogando
terra dentro do apartamento alheio, só não percebemos a minhoca que tínhamos
jogado. Quando entramos em nossa casa. Ouvimos um grito vindo do andar de
baixo, sabíamos que tinha vindo da vizinha. Bem, esquecemos que os filhos dela
tinham nos visto. Apanhamos bastante nesse dia. Um dos nossos tios, Fábio, que
estava nos visitando quando tínhamos aprontado isso, ele estava me recordando
depois de 8 anos desse ocorrido, dei muitas gargalhadas ao lado dele quando ele
me contou essa história, eu nem me lembrava direito dela.
Eu ainda visito o antigo condomínio
que eu morava, me lembro dos detalhes, a rua, Fernando Almeida, tinha uma
subida longa que levava ao morro das urtigas. O bloco era 480 C e morávamos no
último andar, numero 42. Meu irmão mais novo adorava na infância o Super Poder
do Flash, a Super Velocidade, daí ele tirou o seu interesse no Guepardo, um dos
animais mais velozes do reino animal. Corria direto pelo apartamento, ficava
subindo e descendo as escadas correndo, o que incomodava os vizinhos, Dona
Rita, a que mais nos dedurava, reclamava para a nossa mãe sobre esse
comportamento que o Vinicius tinha e ela respondia – Rita, ele é só uma
criança, você nunca brincou na infância? – e ela respondia – Sim, mas nunca
desse jeito – minha mãe com certa desconfiança falava – Hum, sei. Tudo bem
Rita, eu vou falar com ele – Tá bom então, Tchau – falando assim, até parece
que minha mãe estava defendo Vinicius, mas ele apanhou que eu fiquei com Dó.
Eu passava a maior parte do tempo
jogando videogame, já que eu não podia sair muito como as outras crianças.
Lembro-me de boas histórias que tive jogando, uma que era bem engraçada, foi
quando meu primo, Pedro, tinha ido jogar comigo um jogo de luta do Dragon Ball
Z, eu falava que ele ia jogar depois que os meus brinquedos jogassem comigo,
colocava meus brinquedos em fila na cama, e ele ficava muito irritado. Só
começamos a jogar junto quando ele reclamou para a minha mãe.
Como as coisas aconteciam era
fantástico, ganhei meu primeiro celular aos 10 anos de idade, nessa época, não
tinha os aplicativos e jogos que tem hoje nos celulares de hoje em dia. Havia
apenas dois jogos, o da cobrinha e um jogo de nave. Não dava nem para escutar
música. Os momentos marcantes que tive com ele, foram às conversas que eu tive
com a minha primeira namorada, Amanda, se é que dava para chamar aquilo de
namoro. Rolava só uns abraços e às vezes um selinho. Para mim, aquilo era
sensacional, principalmente quando andávamos de mãos dadas pela escola.
Ficávamos horas conversando no celular e os assuntos eram bem chatos, mas eu
gostava da voz doce dela. Meu irmão começou a ter seus primeiros romances mais
tarde, e eu até tentei ajudar ele, mas acabava o fazendo passar vergonha. Uma
vez até que deu certo, com a menina que ele mais gostava na escola, Marcela,
como ele falava dela para mim. Eu dei umas dicas e eles até começaram a
namorar, como irmão mais velho, confesso que fiquei feliz.
É claro que nem tudo era um mar de rosas
entre nós dois, brigávamos direto, na maioria das vezes, o motivo era o mesmo,
já que tínhamos apenas uma TV na casa, as discussões começavam para decidirmos
com quem ia ficar o controle. Vinicius, que detestava discutir, acabava
inventando algumas soluções para chegarmos a um consenso de quem ia ficar com o
controle remoto. Ele me dizia – Carlos, vamos fazer assim, deixaremos o
controle nesse canto do apartamento e iremos correr daquele outro canto até
aqui, quem pegar primeiro o controle escolhe o canal – e como eu gostava de uma
boa disputa, aceitava sem pensar duas vezes. Ele geralmente me ganhava e
acabávamos assistindo os desenhos que ele adorava.
Lógico que todos os irmãos brigam,
mas, tivemos bons momentos de preocupação um com o outro. Recordo-me de um dia
que ele tinha passado mal na escola e a sua professora comentou sobre isso
comigo, disse que ele tava com dores de cabeça. Notei quando tínhamos chegado
ao apartamento, que ele não tinha comido muito bem e estava meio pálido. Eu
estava saindo para escola, mas fiquei preocupado com ele. Fiquei com ele e
disse – Ei Vinicius, eu vou ficar aqui com você, borá assistir algum filme para
ver se melhora o seu humor – meu irmão desde criança até hoje tem preferência
por filmes de animação, sempre que eu falo para ele escolher um filme,
assistimos alguma animação. Nesse dia assistimos A era do gelo, filme que ele
adorava, como todas as outras animações.
Para me divertir um pouco em casa,
costumava dar uns sustos no Vinicius. Uma vez estávamos assistindo TV e tive
uma ideia para pregar uma peça nele. Eu tava mastigando chiclete e fingi que
tinha me engasgado. Ele começou a ficar preocupado e não sabia o que fazer, a
primeira pessoa que quis ligar foi para os policiais. Comecei a me levantar e
sorrir dele. Outra vez foi quando o acordei, dizendo que o mundo estava
acabando e que a água estava afundando tudo. Ele ficou quase uma hora sentado
no sofá chorando, só descobriu que era brincadeira quando teve coragem para
olhar pela janela e viu que não estava acontecendo nada.
Bem, muitas coisas aconteceram e
claro, coisas que me arrependo. É estranho perceber que naqueles dias, não nos
dávamos conta de como o tempo passava rápido demais. Não tínhamos tantas
preocupações e nem sabíamos o que queríamos ou íamos fazer da nossa vida. Não
tínhamos responsabilidades pelos nossos atos. Hoje, sinto falta de muita coisa
e ainda fico horas e horas deitado, pensando naquilo que eu queria fazer, mas
sempre tive medo ou parava na metade do caminho. Uma das grandes lições que
aprendi com a vida foi que, aprenda logo o valor que o tempo tem, não perca
tempo e releve as coisas fúteis da vida. Dê valor às coisas que realmente
importa e se mantenha perto de pessoas que importem com você. Aproveite o
Maximo que puder com a sua família, releve as brigas, não esquento a minha
cabeça com isso. O que me importa são os bons momentos. Não guarde rancor e
saiba amar e dar amor. Viva, aprenda e saiba que você irá errar muitas vezes
até acertar. Tenha paciência, ande devagar e não tenha pressa. Saboreie todos
os momentos. Aprenda a viver e entenda que aquilo que se foi não volta mais.
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